Onde a luz se muda e dá vida ao Azulejo
Um património azulejar de extrema riqueza, com cinco séculos de História, espera por si na mais recôndita igrejinha das terras da Charneca ou num simples coreto, dando vida às pequenas aldeias das Serras D’Aire e Candeeiros.
O azulejo está presente na vivência do dia a dia, quando se espera pelo comboio numa estação de caminho de ferro ou tão somente quando nos dirigimos ao mercado municipal scalabitano.
Abarcando todas as épocas da produção azulejar, desde as mais antigas presenças da cerâmica árabe, via Sevilha, chegamos ao último século do milénio com as composições decorativas que revestem as fachadas urbanas e traduzem a simbologia das lojas tradicionais.
Isto é Ribatejo! Espaços e campos onde a luz – que se muda de Norte para o Sul do país – se reflecte muito mais no azulejo. Proporcionando vida, animação e cor mais cintilante ao revestimento no interior das igrejas ou alma e carácter ao exterior de edifícios citadinos, onde partilhamos a cerâmica e azulejaria no nosso quotidiano.
Ribatejo para se percorrer, aldeia a aldeia, palmilhar, cidade a cidade, e deixarmos passar o tempo, sem pressas. Eis-nos, então, diante de lindos painéis de azulejos – pintura popular ou de mestres – que embelezam a atmosfera da província.
Azulejaria Religiosa
Se imaginássemos os templos religiosos como espaços fechados, de ambiência claustral, bastaria a beleza do azulejo para recriar a viva religiosidade destes locais. Presentes em todo o Ribatejo, em força em Santarém, mas também nas mais afastadas vilas e aldeias.
A diversidade do seu formato, a clarividência da sua luz, a alegria da sua cor, são motivos suficientes para franquearmos as portas de muitas igrejas ribatejanas. Uma riqueza artística que urge redescobrir.
As primeiras obras conhecidas do azulejo no Ribatejo, como revestimento religioso, datam do século XVI – a designada azulejaria arcaica.
Comece a sua jornada em Coruche, que tem na Igreja de São Pedro uma riquíssima nave revestida de azulejos dos tipos padrão e tapete. Passe também por Santarém, que detém igual beleza nas Igrejas de Santa Iria e São Nicolau, ou na capela de Nossa Senhora do Monte onde sobressai um silhar de azulejos seiscentistas do tipo padrão. Obrigatória é também a visita à Igreja do Convento de Almoster. Mas é na Igreja de Marvila, também em Santarém, que se vai encontrar os mais belos exemplares do azulejo padrão do século XVII. O templo é justamente considerado a “Capital do Azulejo”.
No século XVII, as forças do clero encomendavam para os seus templos pequenos painéis com cenas religiosas, de caça, guerreiras, mitológicas e satíricas. Pode encontrá-las em Benavente, na Igreja da Misericórdia, ou bem perto, na Igreja Matriz de Salvaterra de Magos.
Um período de grande produção do azulejo foi todo o século XVIII, que abarca o período do “Ciclo dos Mestres” e da Grande Produção Joanina.
Passe pela Igreja de Santa Cruz, na capital ribatejana, em que azulejos do tipo tapete, azuis e amarelos seiscentistas forram os parietais da nave e da capela-mor. Na casa da Irmandade, anexa à Igreja, admira-se um magnífico silhar de azulejos setecentistas com vários painéis azuis e brancos decorados por temas religiosos e paisagísticos. Na Igreja do Santíssimo Milagre, para além de azulejos do tipo padrão, aprecie-se um silhar do tipo enxadrezado, seiscentista. Na Igreja Matriz da Chamusca, delicie-se com a belíssima nave revestida por silhares de azulejos verdes e branco.
Na Golegã, visite a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia, às quais o azulejo não deixa de imprimir um toque de sobriedade e o contraste da luz e da sombra contribui para um ambiente belo e sereno. Bem perto da Golegã, na Igreja Matriz da Azinhaga, sobressai uma cartela central com a reprodução cerâmica da Sagrada Eucaristia.
Chegados ao século XIX, verifica-se um aumento da produção na decoração de palácios, mercados, monumentos religiosos, casa comerciais e estações de caminho de ferro por todo o Portugal, por todo o Ribatejo!
Casa-Museu dos Patudos
A Casa-Museu dos Patudos, em Alpiarça, exibe um riquíssimo património cerâmico, único em todo o país. Imperdoável se não a visitar.
Primeiro foi o tempo do coleccionador José Relvas pesquisar e adquirir por toda a Península Ibérica. Simultaneamente deu-se liberdade para que Raul Lino criasse, ele próprio, modelos que retratassem a família, o Ribatejo, Portugal. Um distinto e diversificado espólio, que nos enobrece e se torna imperdoável não conhecer tão peculiar beleza.
Rodeada de altos arvoredos e emoldurada pelas belas lezírias ribatejanas, entramos na Casa-Museu.
Podemos começar a visita pela sala de São Francisco, onde o visitante ficará maravilhado com os painéis de azulejos que decoram este recinto e que representam passagens da vida de São Francisco. Estes painéis, que pertencem à Igreja de Sto. António da Chamusca, datam do século XVIII. Também a sala de jantar está revestida de belíssimos silhares de azulejos mudéjares de origem sevilhana, de grande efeito decorativo e alto valor dos mais antigos entre nós.
Antes de visitar os aposentos de José Relvas, não se esqueça de admirar, na escada francesa de acesso, o painel de azulejos que decora as paredes. Representa, de forma sublime, ao fundo A Casa dos Patudos, e em primeiro plano, a Arte e a Agricultura, actividades a que José Relvas, político republicano e agricultor ribatejano, se dedicava com afinco.
Estações Ferroviárias
Passa o comboio todos os dias, a toda a hora, século e meio depois de aqui, pelo Ribatejo, ter nascido o primeiro troço ferroviário português (Lisboa – Carregado, 1856). A história está no azulejo. Nas estações de caminho de ferro estão retratadas, no azulejo, a vivência do trabalho e o património monumental da província.
O Ribatejo orgulha-se de possuir duas estações ferroviárias com maior valor azulejar: Santarém e Azambuja. Detenha-se, por algum tempo, na Estação de Caminhos de Ferro de Santarém e admire os dezasseis painéis produzidos, em 1927, pela Fábrica Aleluia, em Aveiro. Reveja a ponte sobre o Tejo, reviva a tomada de Santarém aos mouros ou imagine-se na pele de um verdadeiro campino, típica figura ribatejana, bem representada nestas magníficas obras de arte.
Uma paragem na Azambuja é determinante para se agarrar, pictoricamente, à simbologia do trabalho agrícola e fluvial ribatejanos. A faina do labor no campo e o vigor do retrato – a azul – do quotidiano no Tejo, onde coabitam os transportes (a fragata) e a pesca (avieiros).
Mercados Municipais
Propomos agora uma ida às compras, ao Mercado Municipal de Santarém. Aqui, toda a história e geografia do Ribatejo é retratada no azulejo.
Baseados num gosto historicista e nacionalista, estes painéis representam alguns marcos históricos de Portugal e cenas das principais actividades laborais e de lazer.
Entre 1932 e 1934, decorreu uma autêntica campanha azulejar no nosso país. O Mercado Municipal ostenta com imponência um valioso núcleo de azulejos de pintura naturalista, que fazem alusão à província do Ribatejo. Os painéis revestem as paredes do mercado, entre o Campo Sá da Bandeira e o Largo do Município, paredes meias com o Jardim da República.
É um vasto espaço azulejado, composto por moldura imitando o rococó e cornucópias de que saem flores e frutos. Se admirar com mais pormenor a fachada, poderá vislumbrar, sobre a porta principal, um frontão em que é representada uma cena de mercado.
Informação gentilmente cedida pela Região de Turismo do Ribatejo